Mordam o terreno e catapultem-se entre as estrelas, agarrem-se entre as pernas do rival e realizem acrobacias audazes: os jogadores de rugby convertem cada partida em uma grande festa. E esta festa, este prazer, esta sensação, implica numa certa visão do homem.
O Rugby é uma festa e uma religião. Os apaixonados pelo rugby falam deste esporte em idênticos termos: “é um jogo incrível, mas ao mesmo tempo é uma ocasião para reencontrar-se”.
Junto ao PUB, o Rugby – dois fenômenos extremamente unidos entre si – constitui um dos elementos mais sólidos da sociedade britânica.
“Ser ou não ser rugbyer, essa é a questão” – assegura um mineiro veterano e pilar da equipe British Coal. Essa questão é uma afirmação redundante, continua dizendo “Pode-se nascer rugbyer como pode-se nascer inglês, francês ou espanhol. O Rugby não se resume a uma atividade esportiva, apaixonante mas limitada. O Rugby é um destino, determina toda a existência”.
“Deste Dom – prossegue o antigo mineiro- herda-se o bem que se adquire em virtude de um privilegio inexplicável. Como uma graça, este Dom tem somente alguns eleitos. O mundo divide-se em dois: os que são rugbyers e os que não são”.
Esta espécie de documento de identidade condiciona toda a vida. No PUB, no trabalho, se fala de rugby como de um amigo íntimo. Ser rugbier é também cultivar religiosamente esta reverência. Centenas de veteranos, em todo o território britânico, retirados desde muitos anos dos campos, renovam suas licenças porque não concebem outro lugar para fazer exercícios físicos que não seja um campo de rugby. Os irlandeses asseguram que somente aceitarão a “unção dos enfermos” se a cura vier na forma sagrada em uma mão, e na outra uma bola oval de rugby.
“A Festa – disse Pierre Sansot, professor francês de Antropologia em Montpellier – é o encontro de um grupo em torno de uma ação fundamental, que ronda os confins do sagrado, transpondo a condição humana, onde não cabe a tristeza, pelo contrario, êxtase, exaltação, transe, a inversão de valores da vida cotidiana”.
Para conseguir esta intensidade emocional, passa-se geralmente por um ritual, por uma liturgia precisa que não aliena o indivíduo, porque se adquire no fundo do seu coração.
Para um sargento da policia, jogador de rugby, o “rugby é a vida elevada a quinze”. O que é mesmo, uma existência que vale quinze vezes, porque com quinze se designa a equipe que pratica este esporte. Todos os amantes do rugby se apaixonam por “ele” precisamente por ser um esporte coletivo por excelência.
Uma prova disso é que quando um chutador converte um Try, não se exalta como um futebolista ao marcar um gol. Pelo contrário, sorri modestamente antes de dirigir-se ao centro do campo para agradecer seus companheiros, sem os quais não teria sido possível apoiar a pelota dentro do ingoal. Numa partida de rugby não há heróis, apenas duas equipes.
“Este esporte – confessa um jogador do banco Barclays – exige uma fé cega nos companheiros. O jogador que se lança com seu corpo sobre a bola sabe que no segundo seguinte toda a equipe vai ajudá-lo. Em caso contrario se deixaria pisotear.”
As partidas de rugby produzem freqüentes incidentes. Ninguém discute que o Rugby é uma arte de viver, mas alguns, sem nenhum entendimento, o consideram um esporte violento. É inegável que se trata de um esporte mais de combate que de contato. Quando se tem direito a chocar, agarrar, derrubar, evidentemente trata-se de um combate. Mas há algumas regras que necessitam ser respeitadas.
Tudo que o rugby autoriza poderia parecer, em outras circunstancias, o prelúdio de uma peleja violenta. Mas sobre o terreno de jogo adquire outro significado. Existe não como uma agressão, mas sim como uma maneira de avançar rumo ao campo contrário. Não se pode perder nunca a dimensão lúdica do rugby. “Precisamente por isso não se trata de um esporte para qualquer um”, assegura um comandante Major, jogador do Welsh Guards.
A “grande família do rugby”, constitui-se numa espécie de casta reservada a homens responsáveis de seus atos, capazes de distinguir o jogo no que ele tem de arbitrariedade e de realidade. Não há grupos de torcedores, ansiosos por vingança e violência, porque os seguidores pertencem a “Grande família”.
Por isso os jogadores se submetem a um duro treinamento. Desde cedo, para estar em perfeita forma física, mas principalmente para aprender a aperfeiçoar esta arte de viver e de comportar-se. Todos estudam e trabalham, e muitos em condições muito difíceis, mais sacrificam também seu tempo com os treinamentos semanais com muita seriedade, respeito e entusiasmo, porque sabem que são jogadores de rugby, e posam e assumem toda a herança inerente ao modelo de vida que elegeram.
A superação dos jogadores de rugby não tem outra finalidade senão alcançar descobrir em si mesmos os instintos mais recônditos. Os jogadores dão vazão simplesmente a noções de valor e de alegria, de liberdade, que se adequam perfeitamente a este esporte de combate e de grandes valores, envolvido em quimera e tradição.
Antes de celebrar cada Versity Match, encontro anual que realizam Oxford e Cambridge, um treinador disse a seus jogadores: “Meninos, vão ir aonde nada vai, aonde só vão os eleitos que assim o desejaram. É o grande encontro com nós mesmos...
A busca Suprema...”
(Autor desconhecido)
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