Ao parar junto a faixa de pedestres de uma movimentada avenida de Porto Alegre, esperando aquela sequência tríplice de cores chegar ao vermelho para que os veículos dessem passagem aos seres de carne e osso trafegarem, um cidadão postou-se ao meu lado para juntar-se a mim na espera. Era um homem alto, cabelos compridos e barba por fazer. Apesar de jovem não era muito atlético, parecia até um pouco desleixado. Ele carregava um violão. Não estava em uma sacola, mas em suas mãos, pronto para ter suas cordas tocadas. E foi o que aconteceu. Uma bela melodia começou a ser construída pelo atrito daqueles dedos longos com unhas roídas com as velhas cordas do violão. Uma canção lenta, agradável aos ouvidos, emoldurando aquele momento de espera. Por algum momento foi como se a vida tivesse trilha sonora. Muito diferente de ouvir sua música favorita através de fones de ouvido. Era como se tudo fosse parte de uma cena qualquer de algum filme perdido em uma prateleira de locadora. O sinal fechou. Atravessamos a primeira via. Ao longo do percurso a música acelerava e eu me dava conta de que estava a ponto de chegar atrasado ao compromisso que tinha. Era a trilha sonora daquele momento.
O semáforo da outra via ainda estava vermelho. Percebí que estava para retornar ao verde e apressei o passo para não perder mais tempo. Ao chegar no outro lado percebí que o dia voltara ao normal. O violão e seu comandante ficaram para trás. Minha trilha sonora acabou. O melhor momento daquele dia ficou para trás.
Não me atrasei para o compromisso.
Mas fiquei sem saber qual seria a trilha sonora da próxima cena do meu dia.
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